Sempre adorei o Eduardo e a Mônica. Lindos eles. E, claro,
"ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz", como toda
a música, sempre brandiu alto na minha voz quando a canção começava em um
local onde eu não fosse passar vergonha. Mas desde sempre, eu reconhecia
que esse era o único contexto onde algo assim soaria agradável aos meus ouvidos
e ao meu coração.
Entenda, com todo o respeito: não quero ser arroz ou feijão
de ninguém! Aliás: não quero sequer ser feijão com arroz para alguém, inclusive
para mim mesma. Quero ser refeição completa, banquete. Lasanha, cinco tipos de
pizza, farofa, picanha, feijoada, pão com ovo, dois tipos de risoto, três tipos
de sobremesa - vinhos e cervejas, dos melhores e à vontade. Quero, só depois de
satisfeita, achar mais alguém para empanturrar. Afinal, a gente não tem que
completar ninguém, a gente tem que transbordar: em si, e no outro. Mas ninguém
transborda se prefere manter o copo (ou a mesa) vazio: felicidade é
responsabilidade individual, única e intransferível. É como aquele convite VIP
que se você não puder aproveitar, não adianta entregar para o amigo - nesses
casos, nem irmão gêmeo funciona.
Amar, por outro lado, é um dos maiores saltos de fé que
alguém pode fazer: não se ama esperando algo em troca, não se ama sequer
esperando ser amado, não se ama quando apenas é bom e o banquete alheio é
farto. Imagine só?! "Amor, amor! Baratinho! Troco por buquê de flores no
dia dos namorados"'; "Boa tarde, me diz uma coisa...você tem aquele
negócio...amor, se não me engano, é grande assim e a gente pode ligar quando
tiver vazio e quiser encher? Ta quanto? Pago com um presunto para você colocar
aí no seu pão" - quando você se basta, então, você pode se dar ao luxo de
bastar para alguém que se baste também. O resto, é história.
Porque, é claro, muitas vezes, amar inclui sofrer - e
existe uma enlouquecida ordem social que determina a felicidade e o sucesso com
base no status de relacionamento de alguém, plantando frases do tipo "você me faz
feliz/você é tudo/etc" que, personificadas, seriam a própria face do
horror e da sociopatia, uma mistura bem elaborada de Leatherface e Babadock.
Mas a felicidade de um amor bem resolvido é o pote de ouro no fim do arco-íris
dos relacionamentos, que você só estará apto a enxergar quando se amar o suficiente
para saber que merece ser feliz.
Depois, qualquer um que estiver ao seu lado terá sido fruto de um longo trabalho de si e, portanto, muito bem escolhido: digno de todo dedicação, esforço, comprometimento e lealdade para que seu nível de felicidade (entregue a você com o tanque cheio) seja digno de enlouquecer qualquer ponteiro que não encontro número indicador a altura. Um processo de retroalimentação em que a alegria de estar em si no outro se reproduz nesse muito que se torna o nós - a partir do momento que a gente decide que tá pronto para dividir, não somente uma refeição, mas uma tarde, um final de semana, uma quinta-feira, uma cama, uma vida. Para quem pode, "transformar um ribeirão em braço de mar": não falta amor, falta vontade.