10 de novembro de 2010

SOBRE IS E PONTOS



Fomos lindos enquanto pudemos durar mas, afinal, fico pensando: quanto realmente duramos? Dez minutos, como naquele dia em que você novamente tentou? Cinquenta? Durante aquela conversa em que você lutou contra a verdade de que não devíamos ficar juntos? Dependendo do que realmente somos nós, espero ainda estarmos durando. Eu te perguntei sobre minha rudez antiga em negar: o quanto aquilo havia te magoado? Até então essa idéia me era mesmo absurda se contassem. Meu egoísmo supôs todas as probabilidades de consequências, menos as que te atingiriam. Toda minha raiva pelo seu despeito final, sua falta de sensibilidade ao não tentar me seduzir como antes, a ausência de notícias suas. Admito: você tinha caído no meu conceito e para mim todas as justificativas para isso eram óbvias: agora não era mais só você, e você não tinha mais só a mim. Eu só tinha passado na sua vida como um trem, que apesar de passar lento e ficar um pouco, tinha sido mais rápido do que eu gostaria, e o que eu gostaria é óbvio: não passar. Então arquitetei desculpas para sua falta...Quem sabe você não quisesse mais me confundir agora que via minha felicidade? Quem sabe você tivesse colocado com carinho, numa caixa bonita, sua vontade de mim, só pra apaziguar minha vida por saber que essa vontade poderia causar fortes tempestades num futuro que eu já havia julgado próximo - bem como seu caráter masculino, o qual joguei no pior dos cárceres. Quem sabe você só estaria me protegendo do seu papel de predator e prezando pela minha felicidade, mesmo que isso significasse amortecer seu desejo? Não. Não me iludiria. Eu não fui importante. Mas então, naquele dia, meu prêmio por altruísmo mais do que justo foi recompensado com o esclarecimento da minha pior agonia: não te importar, na verdade, é que era uma mentira. Então, provavelmente, eu entendi: te quero bem, muito bem, como queremos a um amigo querido, ao primo, ou até ao irmão. E assim, sentir seu despeito, seu distanciamento cada vez mais óbvio e sua demonstração de indiferença me obrigou a me sentir ferida. Era amor ferido sim, mas um amor diferente do que eu supunha e, ainda bem, muito mais saudável. A verdade é que, sim, você me inspira, e disso não tenho dúvida; como não tenho das outras coisas que te disse: pensei muito em você, e era você que eu via quando fechava os olhos. Nos imaginei e nos construí diferente de tudo. Afinal, o que de mais evidente uma mulher pensaria com um sentimento tão inexato? Minha confusão alimentou uma paixão inexistente, e me deixou cega para o que realmente existia: um carinho enorme por você. E agora, com essa evidência, eu começo a pensar no antes, como quando se assiste o final inesperado de um filme e todo o restante da estória toma outro sentido. É verdade: eu senti ciúmes; minha ansiedade em saber o que era você alimentou o que as pessoas geralmente acham que é, e acreditam piamente na versão mais coerente. Justo eu, com toda minha incoroência. De qualquer forma minha insensatez refletiu até nisso, que seria comum; tornei tudo mais díficil e com esforço resisti. Dei explicações para mim e para você. Passei dias dizendo que agora meu quadro sintomático passional tinha passado, e na semana seguinte lá estava eu possúida pela minha impulsividade. Isso durou anos. Fui hostil quase todas as vezes em que minha frustração era tão incontida quanto discreta; me acalmei com o fato de que você ainda estaria disponível caso eu mudasse de idéia; e chorei semanas quando soube que existia alguém (justo quando eu tinha feito toda aquela loucura de surpresa). Chegamos bem perto de fazermos uma besteira, e você jogou limões em mim naquele dia na praia. Afinal, parecia que minha rejeição e indiferença também te irritava, e que sua masculinidade também te impediu de ver que o que éramos era muito melhor que um amor não definido: era um amor de verdade, entre duas pessoas que se desejavam o bem e que se irritavam na indiferença de ambos. E agora tudo fica tão mais claro. Eu quis estar nos seus pensamentos como a mulher da sua vida, mas não pensei na hipótese de ser uma pessoa a qual você protejeria em quaisquer situação. E essa segunda era muito melhor. Então, hoje, agora, eu posso dizer sem vergonha, medo, constrangimento, ou orgulho: Eu te amo, e espero que nada, nunca, nos separe. Mesmo que não possamos nos ver tanto quanto meu afeto pede, e só assim, por acaso, eu continuo esperando pelo dia em que já velhinhos troquemos palavras gentis. Espero ainda poder te aconselhar, levantar sua auto-estima e te dizer: vai. Lembrar de você quando ler Aleixo, conhecer alguém com covinhas e um sorriso lindo; ou uma mão branca feito de lagartixa. E nada irá mudar isso porque...amor lá muda?

4 de novembro de 2010

AMORÉTICOS

I
- Ele era um baita sacana.
- Não acho. Quer dizer, será que ele não quis em alguns momentos imitar Werther? Será que as aspirações e os traços do personagem não seriam os dele mesmo a cuja totalidade só faltou o ato final?
- E se fosse? Ele seria menos tolo?
- Aí é que está, não o acho tolo. Eu fico pensando...Ele se matou por amor. Quantas
pessoas já se mataram por amor?
- Amor?
- Amor.
- Por quem?

Enquanto o silêncio tomava conta dos minutos ela pensava de deveria perguntar. Mas como sempre já falava antes que acabasse o pensamento.

- Você se mataria por amor? Amor por uma pessoa especial.
- Se eu encontrasse uma pessoa especial, eu viveria por ela.
- Mesmo que ela te negasse?
- Se ela me negasse, eu viveria ainda mais, primeiro tentar provar a ela seu erro, segundo para dar a ela a chance de acertar. Afinal, não é amor?
- Mesmo que a dor fosse maior?
- Dor? Dor passa. Você acha mesmo que isso acontece por dor?
- Por excesso de amor, acredito.
- Foi. Foi pelo excesso de amor próprio. Ele não suportaria viver com o fato de que foi negado e fracassou, nem com o fato de que a pessoa que o negou poderia um dia ser feliz com alguém que a merecesse: para puni-la, ele se mata. Não vê a carta que deixa para Carlota? Entregando a ela uma culpa que não lhe pertence como que chester na bandeja? "Veja Carlota, que não tremo ao pegar a fria e terrível taça por onde quero beber a embriaguez da morte! É você quem ma apresenta e eu não hesito um só momento.". Ah! Por favor!
- Tudo bem, ele pode ter colocado uma certa tragicidade, mas isso diminui seu sofrimento?
- Não existe sofrimento, é egoísmo. E não é só ele. Lembra de Os trabalhadores do Mar?
- Ah qual é? A questão foi muito mais madura e não da pra comparar com Werther! O Gilliatt não podia se casar com a Dèruchette, mesmo depois de toda a loucura no mar que fez por ela. Ele não tinha opção!
- Claro que tinha. Regressar e se manter firme. Mas não podia fazê-lo punindo-a ao mesmo tempo.
- Ele não queria encontrá-la, não queria ver mais ninguém. Imagina passar a ver a Dèruchette toda bela e formasa com seu Ebenzer?
- Eu já vi muitas das Dèruchettes que encontrei pelo caminho com seus Ebenzer, e nem por isso me enfiei dentro de um mar gelado para me afogar.
- Ás vezes não sei como funciona tua forma de amar.
- Amofórmica.
- Mas limitada pois você é capaz de esquecê-la ao lidar bem demais com a possibilidade de um outro fazê-la tão feliz quanto um dia você desejou.
- Não. Meu amor não teria limites, nem acabaria. Viveria lá, como uma lâmpada fraca, esperando estímulos para acender novamente. - E percebendo que talvez estivesse sendo ferrenho, pensou no que dizer para não assustá-la: Afinal, qual é a medida exata de amar? Talvez eu ame demais.
- Ou de menos.
- Talvez você não saiba.
II
- Então vamos lá. Qual foi a última vez que você amou e foi negado?
- Foi na última vez que amei.
- Foi a primeira?
- Não.
- Será a ultima?
- Provavelmente não.
- E por que você tem tanta certeza?
- Porque eu disse que seria a última em todas as vezes anteriores.

Não havia mais volta, agora ela sabia.

- Afinal, o que você é?
- Um fracassado, ou um grande iludido. Qual você prefere?
- Bom...Eu fico pensando o que você quer.
- O que eu quero?
- Suas intenções são intangenciais.
- Mas por que eu tenho que querer alguma coisa, por que eu tenho que ter intenções?
- Todo mundo tem intenções.
- Sabe, pensando bem é verdade. Mas, quais são as suas então?
- Ainda me lembro de ter perguntado primeiro.
- Verdade. Mas imagino que você saiba melhor das suas intenções que eu das minhas.
- Que fértil imaginação.
- É mais uma questão de sensibilidade.
- Então, porque não usa sua sensibilidade para descobrir por si só, já que ela é tão boa, não deveria te ser necessário me questionar.
- Já usei. Mas fiquei achando que meu senso de vontade foi mais que meu senso de razão, afinal as perspectivas foram muito otimistas para mim.
- Vamos lá então, me fale do que sua sensibilidade viu sobre minhas intenções.
- Bom, ela me disse que você quer muito uma coisa, mas existem dois obstáculos. Se não houvesse o primeiro e você estivesse livre para conquistar aquilo que quer - e tenha certeza que conseguiria - então você desejaria que essa coisa te quisesse também. Porém, mesmo se essa coisa afirmasse reciprocidade, você a negaria; eis o segundo obstáculo. Mulheres!
- Você perdeu...10 pontos. Falta de objetividade.
- Ah! Então era um jogo? Droga. Eu sempre me esqueço que estou num jogo, na verdade, nunca sei que é até que eu perca.
- Deixe de ser tolo. Foi um metaforismo.
- Então me permita uma analogia também.
- "À lá vonté Siñore."
- Estou em frente a duas portas. Mas não posso ver se elas pertencem ao mesmo armário. Uma tem flores e uma fechadura com uma chave e parece me chamar para entrar, mas quando eu tento abrir, não consigo. Outra está encapada e fico na dúvida sobre o que ela esconde e como esconde tão bem se não usa chave nem fechadura.
- E?
- A primeira eu já estou tentando abrir, mas talvez eu não seja a pessoa certa para saber usar a chave sendo que isso não me impede de tentar pois como ser humano é natural eu deter também de certa curiosidade. A segunda eu simplesmente paro, e fico olhando, tentando descobrir por análise, porque não tenho outra opção senão contemplá-la.
III
- Eu não gosto de analogias.
- Mas eu não te dei essa opção. Você perdeu...10 pontos.
- Posso saber por que?
- Crueldade.
- Crueldade?
- Você sabe do que estou falando, mas continua agindo como uma porta obscura.
- Não. É que eu sei que não importa se eu me mostre e te deixe me entender, você vai continuar tentando abrir a primeira porta, porque você não gosta de portas abertas. No entanto, como amiga, gostaria de lhe dizer que é uma pena: essa porta que você tenta abrir, não gosta de caras que insistam tanto em tentar.
- Você está negando uma coisa que quer, isso é fato. Só não sei se é por medo de ser deixada, ou por medo de deixar o que tem e perceber que era simples impulso.
- Você deveria usar essa certeza para abrir a porta que tanto quer. Não é a minha, eu e você sabemos disso.
- Eu e você não sabemos de nada.
- Você parecia saber bastante há minutos atrás.
- Quem sabe?
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