17 de setembro de 2010

MORADA


Eu queria ter tido um mundo de idéias. Mas estou aqui. Sem gosto, sem dor, sem riso. E que isso me faz lembrar? Daqueles dias em que tínhamos coragem. O que aconteceu? Pra onde fomos afinal? Os riscos aos quais não nos acovardamos em correr, o calor das veias, e o arrependimento forjado, escarrado na máscara que por trás guardava um rosto cheio de vitória? Onde está? O nosso nós, pra onde foi? Não éramos quem perguntava o porquê. Éramos quem o fazia. Agora somos só aqueles que fazem planos e se envergonham um pouco a respeito do que sonhávamos. Mas eu sei. Em algum lugar de mim eu continuo existindo. É com a força dessa certeza que preciso partir: pra me ver de longe. É por isso que estou aqui

EU SEI


No fim, é contigo que vou estar, porque és meu porto seguro e é a ti que sempre volto. Nossos caminhos são tão óbvios que se não houvesse dificuldade alguma, eu as criaria, como criei - e ainda mais vou criar. Houveram outros, e disso eu sei, não precisa me jorrá-los como pequenas e torrencias gotículas amargas, e foram distrações forjadas que cobriam minha insegurança: eram minha garantia de que, se algo desse errado e você não mais me desejasse, haveria outra saída. Doce ilusão, para isso, não existe saída nem solução. Mas eles eram como se me dissessem: "não era mesmo pra ser". Talvez - e eu aceito - você nunca entenda, nem nunca me perdoe. Mas eu sempre vou estar aqui,, rodeada por muita gente, querendo a única que tive e perdi. Vou estar aqui, sorrindo e chorando: vivendo minha vida sim. mas esperando que a qualquer momento você volte para que vivamos a nossa. Assumo todas as minhas culpas, e não te juro nunca falhar, porque já jurei e falhei. Mas eu te peço pra não jogar nosso prédio em construção fora caso você acredite - depois de todas as máscaras do orgulho vencidas - que é comigo que deseja estar. Te peço porque eu fiz, e me entristeço. Só uma vez tem-se amores assim, e por uma vez, temos a chance de perdê-los. Eu "ganhei" minha chance, mas você ainda pode "perder" a sua. Vamos voltar a sermos nós: aquela planta estranha e bonita que por vezes seca em tempestades, mas nunca morre. Te espero em todas as estações e se alguém te contar que ando muito florida para quem acaba de morrer de sede, pode dizer que é porque te espero com meu melhor sol.

RAPIDINHAS


_Tapo cicatrizes e sango no delírio dos iguais. Sem me atingir com o tempo antigo sorrio; ainda que não como nobre, sobrevivendo como um mendigo.


_Tinha lá seus anos de sarcasmo e até não era de todo o ruim.


_Convoco minhas certezas e minhas ataduras ao infinito taciturno do meu poço sujo; e apesar de eterno, que permaneça oculto


_Depois de profanas partituras viscerais que rogo, depois de teus braços e teu corpo todo em mim que nego; depois e ti que peço, do ti que faço e amo, imploro e durmo


_Que sorriso trago senão aquele que me pedes; imponente e fraco?


_Só aceite se arriscar por um homem cujos abusos não te deixem em desvantagem e cujos defeitos sejam supridos pela alegria de sua presença.


_Assumia todo o não-começo e a não-eterna-felicidade pois já vira muitos príncipes virarem sapos assim, num piscar de corações, mas a ele jamais daria chance de virar sapo.


_A exposição exagerada é apenas uma droga aos desesperados, um vício dos fracos e ignorantes,, que não cansam de exibir seus frascos, mas são incapazes de exalarem suas fragrâncias.


_Saí fazendo malmequer em quaisquer flores, e enquanto discordava das essências do teu amor, redescobri a razão de procurar um sol a cada esquina.


_Depois de tudo, em mim, dias intermináveis de inverno inventado.


_É só pensar que está tudo bem nesse jogo belo e sujo que criamos.


_Emoldurei os lençóis sobre tuas nuances carnais e acolhi a sensação delicadamente selvagem de não pertencer. Como são poéticas as dores


_Minha criação é secreta, me irritam essas franquezas todas: são demasiadas paras serem reais.


_Sem dor ou vergonha declamou as dezoito e meia doses troianas que, em veludosas vozes, não hão de temê-la.


_Entre razões e partidas ainda não sei se vale a pena a ferida


_Me diga, por que você não mente? Fazendo do único engano minha culpa? Por que você não erra? Fazendo do crime um suspeito. Me diga, por que você não nega, fazendo do erro minha fuga?



_É isso que faz desejar sem ter o emaranhado dos teus cadarços se enrolando com meu salto - na poeira do meu chão, junto com meus cacos e minha falta de compromissos inadiáveis. Fico ali, então, à sombra dos teus passos, no teu encalço, solta aos barulhos que fazem o sapato da tua presença no meu mundo (os quais insisto dizer não ouvir). Presa ao eco da tua voz nos meus pesadelos: que te ver sem te tocar já não merece outro nome.



_Saber que sermos iguais é o que nos afasta me conforta de alguma estranha maneira.


_E eu, que revivo Capitu, não te traio, como ela também não traiu.


_Será que um dia vou te ter por inteiro e não somente pelo pedaço de beijo que não se cala quando menos quero ouvir? SILÊNCIO! Não diga não, não diga sim. Isso foi um jeito de falar que não te esqueço, e que ando torto em busca de respostas por não termos sido.


_Sei que não foi em mim que você viu o inesperado que finalmente sentou na poltrona vaga do teu coração pra te ocupar por inteiro, muito menos ao teu lado, abaixo da lua pra contar estrelas. Mas te garanto: apenas comigo você as alcançaria.


_Te agradeço por tão logo ter se mostrado: é isso que vai me fazer não voltar.


_ Digo que não posso e não poderia, mas faço. Digo que o nego, mas chega na hora eu quero, claro. Quero-o pra mim, quero que seja meu por um tempo, e não importa o quanto.


_Eu imagino tua barba interrompendo meu som, minha carne inda perdida em tentativa vã de interpretar a tua, e é então quando me perco no teu tom.


_Carrego um mundo nas costas. O meu mundo, e nada mais.

13 de setembro de 2010


Você vendo minha dor
eu pedindo pra ficar
e eu que nunca assim pedi
que ironia
inda sonho
com teu sim

(você estava aqui
quando eu parti
e

fim
ni)

3 de setembro de 2010

ANA TERRA

(Inspirado na capa do livro "Terra" de Sebastião Salgado)

Ana
Ana Terra
foi o nome dado
à menina
Menina sem terra
sem comida
sem banho
Menina Ana
sem terra
sem sorriso
sem lembrança
Ana Terra,
a menina que não tinha
terra nem infância

SOLTO


A gente é tão
sempre
tanto
e se confunde
em nó

A gente arranha
embola
embala
enrola
no fim, só

A gente ri
disfarça
foge
tenta
e acaba assim

Sem amor
sem choro
sem êxtase
paixão
sem fim.

QUE NADA


Desculpa assim
vergosa, dura
ás vezes sem cor

Não me revelar tanto
por tão pouco
refletir-me

ou tão tanto negar
a mim o que
me imponho

Desculpa assim
cheia de buracos
falsos motivos

breus, beleléus
sem zéfinis
com bla-bla-blás

Essa obscurecência
dor e mais,
dramas existenciais

Desculpa as vezes
assim sem coisa
sem tal e "mas"

Perdoa aí o exagero
a intensidade
tanta dor

Tanto tempero
pra muito
pouca cor

O idealismo romântico
o demasiado
o paralelismo de amor

Desculpa pelas fantasias
tantas em tudo colocadas
enxergar pouco em preto e branco

Foi mal ser assim sem "talvez"
sem adjunto, sem provérbio
pouco verbo, sem porquê

Foi mal assim
pouco fulgás
Foi mal doer demais.

(O marrom da alma escrevem o espinho da rosa que brota em mim,
esse é meu milagre: minha alegria velada)

3x4 E O INVERSO

(de um jeito meu perfil em 3X4, de cabeça pra baixo meus 4/3)

Aqui comigo
uns cadernos
quatro poemas
Dois violões

Nenhuma vela
Rezo pouco
duvido muito
e nego.

Uma caneta tirada
de lugar incomum
carrego
com a qual me escrevo

Mas tão só
tanto sou
que me refaço

em versos
tão teus
que me embaraço

me enlaço
sem fita de cetim rosada
sem flor

até feliz
sem dor
e até sem laço.

VERGO


Eu risco em pranto
o imaginário branco
e tento mais que riso
Em risco fico: não nego.

Arrisco, tento
imponho a mim
um viver árduo

eu luto tanto
a dor de tão pouco
que esqueço

e a todos
tudo dôo
mas a mim
sonego

SÓ GENTE, MAS GENTE


A gente é tanta gente
por isso é gente esquecendo gente
A gente esquecendo da gente

A gente é tanta gente
e tanta gente
fez pela gente

Mas na hora d'outra
gente ajudar
a gente esquece
e lembra só da gente

Toda essa gente
inclusve a gente
tinha que se juntar
pra ajudar a gente

Gente-eu,
gente-minha
Nossa gente

Porque a gente toda
Só vai ser vista
como gente

Quando toda a gente
juntar com a gente-outra
pra sentir o que a gente sente
num louco junto gente

Sendo sempre
só a gente
uma gente só
só, mas gente
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