28 de outubro de 2016

AOS OUSADOS QUE FICAM

Vi esta foto, e pensei que já não tenho tantos amigos que se possa reunir. Por outro lado, ao longo destes pequenos anos que tenho vivido, não tenho dúvidas de que fiz mais amigos do que posso supor. Tive amigos de farra, tive amigos de sina, tive amigos até de uma única noite e outros que duraram para sempre na eternidade que nos foi possível. Tenho amigos que estão por aí, em algum lugar, cujos laços desperdicei, cuja presença não soube desfrutar mais e melhor e outros para os quais meus caminhos foram insuficientes e minhas pernas curtas demais para correr o bastante e alcançar seus vôos. Tenho amigos que observo de longe, e outros que acompanho na minha imaginação. Tive amigos que salvaram minha pele e outros que não usaram a sua verdadeira. Mas àqueles poucos que tiveram a  bravura e persistência de ficarem é que dedico este texto. Surgiram em diferentes momentos e existiram em diversas ocasiões, mas até mesmo os mais atrevidos souberam chegar sem fazer alarde. A gente nunca sabe o que esperar da vida, mas o mais surpreendente é que ainda assim ela te surpreende. Porque, de verdade, nenhum destes amigos despertaram uma intrínseca certeza ao chegarem mas, como na música, foram ficando até ficar. A estes, meu sincero agradecimento. A vida diminui e a gente vai passando por ela sem que conscientemente percebamos que os espaços agora são menores e as demandas mais exigentes. As lacunas de tempo que antes eram recheadas de aventuras, idas e vindas, tardes de cinema, conversas e passeios, vão dando lugar às pequenas e quase necessárias ambições que insistimos em instalar. Faz-se faculdade. Trabalha-se. Alguns vão já casando e formando família. Alguns vão para fora do país, da cidade, do estado, da sua rotina. Mas têm aqueles que, ás vezes, mesmo depois de fazer tudo isso, ainda assim, não mudam, não passam e não partem. Alguns, até, são como a primavera e podem ficar meses sem aparecer, mas as raízes ainda estão fincadas nos nossos caminhos e sempre voltam a florir.

TANTO

E ainda tenho tanta vida pela frente
que de vez em quando
ainda tenho um canto
um riso
um tanto
solto
Ainda que envolto
num pequeno pranto
Eu vôo em cada canto
Do meu próprio invento
que me espanto

AINDA QUE POUCO


Se falta vento
Invento
Se falta asa
Eu vento

Se acaba o trilho
Eu sigo
E se vou lento
Eu tento


DESVIOS

Quando fica silêncio dentro da gente
assombrando até paredes, esfriando o que é quente
a gente sente, por mais que a gente invente

E quando é intermitente essa falta de barulho
embaralhando a mente, é como olhar pra frente
e não ver nada que sustente

Este é o jogo, estas são as cartas. Não se pode mais blefar:
"Dedique-se à farsa, adote um papel ou seja indiferente".
Estas leis não hesitam em voltar, por mais que a gente tente

Mas quando a gente pensa, vê que esse obscuro permanente
é tudo aquilo de sonho que desde sempre a gente mente
achando que um dia vai ser crente,

de que tudo que é latente, dos outros ou da gente
não importa quanto vente ou qual se deixe
tudo vive e morre com a gente

24 de outubro de 2016

LUA NA ALMA



Meu nome é Luana. Desde pequena eu sabia porquê. Antes de eu nascer, tinha um nome na fila, mas a lua cheia chegou primeiro, e quando minha mãe olhou na janela o olho dela brilhou em mim. Eu não entendia direito porque esse nome tão diferente, com tanto Júlia, Eduarda, Bruna, Camila e Gabriela por aí. Mas um dia ela me disse que tudo passa - uma coisa que não tinha passado na minha mente até então mas que também nunca mais foi embora. Lembrando de tudo que já fiz, vivi e senti, posso dizer que finalmente acreditei que todo mundo já tem um nome bem antes de nascer e o meu era para ser Luana desde sempre porque mesmo tendo ficado tantas vezes cheia e tantas vezes minguante, não parei para pensar, mas decidi sem querer que enquanto eu estiver aqui, não quero esquecer que o mundo não gira assim tão devagar, que ele não só gira, mas se transforma, e cada vez mais, a gente pode se transformar com ele, porque você não pode controlar o sol, mas pode decidir de que maneira vai aproveitar melhor a luz. Por isso escrevo, para me transformar, me tornar nova de novo, e transformar um pouquinho os outros também, porque o mais importante de estarmos aqui, é reconhecer que cada um é um planeta prestes a ser explorado, mas que individualmente somos limitados e dependemos de outros para formar um sistema cíclico, funcional e sinérgico. Meu nome é Luana, e depois de grande descobri que já era Lua antes mesmo de nascer.
Related Posts with Thumbnails
 

Voltar ao Topo