27 de agosto de 2010

VAGO


Depois de editar todo meu álbum com legendas do tipo "learning loving somebody don't make them love you...", percebo que o tempo não é só uma melodia, e que não somos apenas lendas perdidas num oceano de incoerências. São quatro e dezessete da madrugada e eu. Eu. Aconchegadamente acomodada em minha cadeira de três rodinhas, acolhida solidariamente por minhas calças e camisetas velhas de agasalhos antigos, observando, quase que literariamente, a chuva, pergunto às gotas que escorrerem pelo espaço esguio das janelas: afinal, porque cargas d'água chove tanto, e ninguém vem?

(chuva e janela, tanto clichê; pra que mais clichê que pensar em você?)

ALÉM


Havia alguns dias que pensava nele, e lembrava dos deliciosos momentos que passaram juntos. Chegara quinta-feira, e desde então, não pensava em outra coisa além de procurar-lhe. Lembrou então que devia ter seu número anotado em algum lugar. Na carteira. Estava lá, entre seus documentos. Entre empresários asiáticos, franceses, e americanos lá estava seu telefone, marcado de batom pois na ocasião não tinham outra coisa. Lá estava seu nome marcado de vermelho; na ponta um coração. Estava lá, de onde nunca saíra.
- Alô? Respondeu uma voz sem o mínimo de animosidade
- Oi...será que ainda aparece meu nome quando ligo ou você nem lembra mais de mim?
- Ahh! Mesmo se não aparecesse, não haveria como esquecer.
Não resistiu à risada: ainda estava um bom conquistador.
- Ok...bom saber. - e pensou um pouco: será que já não estaria casado? filhos? - Então, você disse uma vez que eu poderia ligar quando estivesse precisando de afeto, ou com saudade. Veja só que azar o seu, estou com ultracarência afetiva doença séria, você deve saber; saudades; e tive coragem de ligar pra te falar isso.
- Poisé...isso é bom?
- Depende da sua atitude.
- Depende da sua resposta.
- Pra que pergunta?
- Se você não ligou antes por falta de saudades, por estar bem servida de afeto, ou por não ter tido coragem.
- Hm...agora fiquei confusa, a opção "b" é a de estar bem servida de afeto?
- Uh! Você continua boa em ser cruel?
- Ah, então não é essa, a resposta certa é falta de coragem.
- E por que só agora?
- Porque só agora desisti de que você me ligasse antes.
- Eu sempre disse que estaria à disposição. Já você...
- Também!
- Tive medo de incomodar. Vai fazer o que hoje?
- Nada, ainda.
- Que tal darmos uma volta? Pararmos num restaurante...Depois a gente podia assitir a um filme, aluguei alguns.
- Não, filme hoje não. Não precisamos mais disso. Ainda o mesmo endereço?
- É.
- Ok, te pego às nove. Até mais.
Desligou antes que ele reividicasse o fato de que quem iria levar seria ela justamene por saber que ele o faria: sempre foi um perfeito cavalheiro, e cortejá-la era um papel que ele fazia bem. Passou no horário marcado. Lá estava ele, do mesmo jeito. Mesma estatura, mesmas medidas, roupas mais sérias; a barba do jeito que ela gostava; mas tinha tirado os óculos, que pena. Entretanto, o mais importante ainda brilhava soberano: um olhar eternamente encantador. Dormiram juntos, como naqueles tempos desejavam tanto. Eram seis da manhã quando ela acordou, pediu pães, sonhos, um pedaço de torta, e fez o café do jeito que ele gostava. Lembrou-se da última vez que havia feito aquilo, nunca deixaria de ser bom. A separação aconteceu sem querer, ela não pôde recusar uma proposta suntuosa, e ele não pôde lidar com a distância. Aquele dia seria sua última tentativa, pensou ela. Comeu sua parte, e junto com a dele, deixou-lhe um recado:


"Você não mudou nada, foi fantástico como sempre. Apesar de tanto tempo: te amo.
Obs.: estou indo pra Londres semana que vem, preciso de um boa companhia de viagem,. Andam precisando de muitos psicólogos naquela cidade louca, e...deixe-me ver, há uma passagem que me disse estar precisando de um dono. Se aceitar o cargo, será muito bem vindo. O avião parte às oito e meia, e você já deve estar meio atrasado."



Eram dez horas da manhã, o avião percorria São Paulo. A poltrona ao lado estava vazia: todo mundo precisa ir no banheiro ás vezes, mas ele já voltava com aquele sorriso especial o qual a fizera voltar. Ela não sabe. Ele não sabe: mas ela nunca teria partido sozinha, e se tentasse, ele não a deixaria novamente. Londres estava ansiosa.

26 de agosto de 2010

ASSIM


Se quer me fazer sentir medo, prepare-se para sentir-se inútil: não temo os imbecis nem os covardes. Vivo por aqui, com um vício qualquer, poucos e grandiosos sonhos, algumas esperanças. Pensando em certas coisas, tentando esquecer outras, e ainda assim, lembrando. Estou por aí, nos becos, nas ruas, meio aos feios e aos belos. Estou nesses lugares desconhecidos, ás vezes escuros. Escrevo algumas bobagens, leves distrações, que já não distraem o necessário. Sinto saudades do que não fiz, e saudades de quem não pude conhecer melhor - e saiba que isso serve pra você - mesmo quando tive todas as chances para isso: carrego alguns, arrependimentos, não sou hipócrita. Carregam, todos, algum. Carrego aqueles que deixei de fazer por falta de pretensão e por um certo medo, mas que eu sei, foi a melhor atitude. Carrego ainda aqueles que me fizeram errar, e desses sei, são os piores. Ouço músicas de vez em quando, com a mesma frequência que leio: menos do que deveria, mais do que tenho tempo. Sustento algumas fraquezas: não tente me persuadir, me manipular, se não estiver preparado para suportar minha reação. Sou amável até na despedida, tenha certeza, mas não pise no meu pé durante a dança. Tenho alguns principios, umas roupas antigas, brinquedos empoeirados na estante, e um amor infinito por aquilo que chamam felicidade. Tenho lá, também, meus desejos impossíveis, e minhas convicções. Convivo com feios, belos, arrogantes, falsos, honestos, corruptos, egocêntricos, intelectuais, cínicos, céticos, bons e maus. Mas raramente gosto de algum deles, exceto quando é máscara; mas também não gosto de máscara. Sou aérea, não ingênua; espontânea, não infantil. Quanto à minha inteligência, não brinque, nem a subestime, ela pode não ser tão boa quanto se imagina, mas não é tão ruim quanto poderia ser e por via das dúvidas, aconselho não provocá-la. E gosto de desafios. Não sou muito de me apegar, entretanto sempre existe um mas. Ou alguns. Posso ser todas as cores, ou as cinzas; posso ser fogo, mas não me faça ser gélida. Sou as pétalas e os espinhos de uma mesma rosa. Não acredito no amor, mas tenha certeza, eu posso amar.

MONÓLOGO


(porque eu não teria coragem de chamar isso de diálogo, e obviamente que por isso não poderia ser colocado na seção diálogos)


Te chamo de teimoso e de rapaz. Te digo que não sou experiente, mas te digo porque tive que aprender sozinha. O problema é que nos filmes a gente esquece de olhar nos bastidores. Ouço de você que toda mudança é forçada, e que se é forçada é ruim. Nem sempre. Não é que você tem que parar de beber até ser arrastado, mas você tem que entender que isso não pode ser sempre porque agora não é só você, tem alguém esperando pelo teu amor, por você são e inteiro, para que possa lhe dar o amor que ela precisa. Não é que você tem que virar um perfeito gentlman, usar só calça jeans, sapato social e camisa, e ainda passar gel no cabelo. Mas todo mundo sabe que ela vai querer ficar perfeita pra você, e mesmo que raramente fique satisfeita, todo mundo esperará o mesmo. Não é que você tem que deixar de ir a festas com seus amigos, mas é que você vai descobrir coisas muito mais prazerosas que isso, e mesmo assim poderá sair a festas com seus amigos. Não é que você tem que parar de ser um bom vivant, mas você agora tem que entender que estar com alguém é assumir um compromisso com uma outra vida, e que seria muito egoísmo continuar a fazer o que você sempre fez sem pensar sobre como aquilo seria absorvido por quem escolheu pra ter ao seu lado. Não é deixar de ser boçal se você tem a mania de ser e isso já faz parte do seu jeito, mas é pensar no que vai falar na sua piada boçal pra não magoar quem você acredita amar. E nada disso é forçado. Você me diz que então não é pra ser, e que não são feitos um para o outro que o faz; que uma hora alguém vai se sentir sufocado. E então eu tenho a certeza: você não a ama, você simplesmente não ama essa menina; se você amasse , teria entendido pelo menos metade do que falei. E mesmo que você argumente que eu não posso dizer sobre o que você sente, insisto: eu posso sim, porque todo mundo que ama sabe do que sei.

- A minha forma de amar é outra.

É sua recíproca. Existem pessoas frias, existem as que negam amar, e as mais exageradas no que diz respeito a isso; mas nenhuma delas duvida ou incompreende o que estou tentando te dizer, é um diagnóstico simples de desamor. Está aí, e você não vê. No fim o amor é um só. E eu te explico que sufoco é você conviver com alguém que só vê o próprio umbigo, que é incapaz de qualquer coisa pra te fazer feliz. Mas você investe na sua guerra contra si mesmo, e justifica ser essa a razão pela qual ainda não ter tido ninguém, e que não se arrepende, que ela foi a única que te aceitou do jeito que você é. E eu penso sobre o práximo passo e te pergunto: cadê ela, então?!Silêncio. Não pense que foi fácil, doeu em mim doer em você. Mas você se levanta só pra dizer que o que não é certo é as pessoas não se definirem e serem mutáveis a cada relacionamento, só para mantê-los; e pior: afirma ter certeza disso. Fico com vontade de te avisar antes: vou te magoar de novo, mas vai ser preciso porque você tem certeza de coisas que te oferecem alta probabilidade de te prejudicarem. Falo no duro, entre seus olhos que forçam-se a não chorar (na sua cultura homem não chora, e eu não ligo). É muita ingenuidade sua acreditar que existe cara metade e idealizar um relacionamento perfeito onde nenhum dos dois tenham que abdicar de nada, por menor que seja esse nada. Além de ingênuo, esse ideal é completamente irracional. Segundo você, eu não aceito nenhuma ideologia contrária a minha, mas esquece de lembrar que não é a minha ideologia. E no fundo, eu sei que você sabe, mas finge não entender nada do que estou te falando. Por que eu não aceito? Quem sabe não é você que não aceita; por que sou eu quem não aceita e é a teimosa? Por que não é você? E então, diante da sua frenética e descompensada negação bombardeio:
- Sempre que eu tento te dar um conselho, você me burla com seus conceitos formados que não mudarão jamais, me apedreja com seus paradigmas construídos não sei por qual motivo. Você diz que sabe o que está falando e você está falando de relacionamento e como eles funcionam, mas você nem mesmo teve um! Você fica aí se lamuriando por uma mulher que você nem sabe se te ama e quer dizer que sabe sobre relacionamentos? Tente ver sob outra ótica, porque tenho uma sensação terrível de que você ainda vai se deparar com muitos obstáculos criados por você mesmo, e eu te adoro e não quero isso pra você. Então fico aqui, desesperada, como uma placa de advertência amarelo fluorescente – dessas de caneta destaca texto vagabunda que se vende na mercearia da esquina – tentando te guiar para um caminho, mas seu motor acelerado, impulsivo e radical, insiste em ir para onde está o perigo. Fico aqui – que nem guardinha de trânsito da madrugada de sexta feira, com o salário atrasado, substituindo pela terceira vez alguém que faltou – e vê um carro quase batendo num poste e começa a sacudir os braços desesperadamente. Fico aqui, assim, vendo você pisar firme junto com tuas idéias e ir se afundando nelas como se fossem areia movediça sem que você enxergue o que existe em volta e pode te salvar. E por fim, você me enlouquece!
Silêncio de novo. Você me responde que sou incrível. E me pede desculpas.


- Não sou, mas quero que você pare de ser ruim consigo mesmo, se não por você, por mim. E eu não aceito suas desculpas, mas fico feliz de ir você ter voltado à realidade.

E agora eu sei que você deve estar lendo isso, e mesmo que finja que não leu quando eu te perguntar, eu gostaria de dizer o que você já sabe, que a última coisa que quis foi te magoar. E te aviso: quando eu usar bengalas e você ranzizar, vou dar com ela na sua cabeça, não quero nem saber; não vou desistir de você. A gente não pode agir como se fosse um documento com cadeado, sem chave, pronto pra não ser aberto nem editado por ninguém. Isso é intolerante e inumano, e nos priva da vida. E te peço, por fim: deixe que deixem uma herança boa em você, deixe que as pessoas sintam-se úteis ao deixar-te um legado.


Sua amiga.

E FIM


- Me perdoa. Por favor.
- Não posso. Vou ter que te perder. Mas não se preocupe, eu tenho medo também. Em dois o medo fica menor. É o que dizem. E é o que eu quero acreditar.
- Mas você não precisa! É só...me perdoa?!
- Eu poderia. Poderia até te perdoar, mesmo.
- Então!
- Mas faltaria coragem para o perdão a mim mesma se algum dia eu perdoasse algo assim. Faltaria-me coragem pra perdoar a mim o erro que fiz ao denunciar toda minha dedicação e minha lealdade à sua traição. E esse, esse é o maior peso que torna pessoas comuns, pessoas amargas.

TERÇO


Lembrou-se de todas as armas com as quais se engalfinhavam num confronto sem fim nem razão, mera e perigosamente verbal. Em seus pensamentos ela o conhecera havia alguns meses, outono talvez. E lhe dava cartões, flores, bombons, todo seu afeto e a dedicação de todos os pensamentos. Ela, em sua imaginação, lhe dava a mentira que ele queria receber e, em realidade a mentira que ela julgava merecer. Ambos atolados em suas vidas incertas e causticas. Lhe enjoava ver-lhe os cabelos, os olhares, e até os sapatos dele a enojavam por exagero de desejo. Até que aconteceu: entre cartas de baralho molhadas com uma bebida qualquer. Depois da angústia por alguém que não veio e da música que falava de um beijo que não acontecia, depois do exagero de consumo de tudo, depois da massagem, depois do carinho e do romance que ocultavam uma clara intenção dessa vez. Depois do abraço, o beijo inesperado. E finalmente, um terço do nada.

24 de agosto de 2010

MENTECAPTA


Segura a minha mão o tempo inteiro, não larga um minuto: quero sentir que você tem um medo absurdo de me perder, quero que quando estejamos num lugar com oturas pessoas, você demonstre que deseja que eu seja só sua como quando você segura minha mão com força. Porque já que não posso ficar o tempo inteiro contigo, quero te sentir inteiramente meu enquanto puderes estar do meu lado. Não. Não te quero solto, não te quero moderno que não gruda. Te quero grudando mesmo. Me dá a oportunidade de falar, ás vezes, que você gruda e eu não agûento, me dá a oportunidade de mentir e fazer charme tentando mostrar que sou uma mulher independente quando na verdade minha paz de espírito depende quase toda de você, e que, na verdade, adoro quando você gruda. Me abraça sempre, me beija muito. Lota minha caixa de entrada com e-mails carinhosos, românticos, deliciosamente provocantes, poesias, frases apenas, ou páginas inteiras falando que me ama. Apareça de surpresa na minha casa e me faça uma declaração de amor original, inusitada, e altamente invejável, mande flores, ou uma rosa apenas, sem nenhum motivo aparente. Não me faça ir atrás de você na sua casa no sábado. Quero me sentir desejada, quero sentir que você faria de tudo pra me ter a qualquer momento, me fazer ir atrás de você não me dá essa sensação, não quero ser tua namoradinha, quero ser sua mulher, sua deusa, seu tudo. Quero ser teu vício, tua manhã e tuas noites. Não quero me sentir um terço da tua vida, quero ser cinco ou infinitos terços dela. Nem de longe quero que me chame para almoçar e que me deixe a vontade para me servir ou para segurar o prato e me dirigir a mesa onde iremos comer, quero sentir você me guiando para onde iremos sentar. Meu Deus...qual é? Eu não sou independente, que papo velho esse que as mulheres de hoje não precisam de amor para se sentirem rumadas. Quero saber que você não consegue tirar os olhos de mim, e que me olhe até que eu me sinta gostosamente constrangida de tanto ser olhada. Quero que ao mandar um e-mail pedindo socorro, você me responda sem demora a resposta mais linda e mais carinhosa e mais apaixonada que puder dar. Quero que quando estivermos com seus amigos e parentes e pararmos em qualquer lugar você desça, do carro e venha até mim para me abraçar ou pegar na minha mão, não que voce dê a volta e me deixe ir sozinha até você, não que me deixe ir sozinho como se eu fosse perfeitamente capaz disso. E oh, problema é seu se você se envolveu com uma garotinha insegura, problema é seu se não sabia o quão insegura era ela, problema é seu se tem medo de conseguir, problema é seu se já não sabe se ela é a mulher da sua vida por ser tão exigente, problema é seu se fez ela se apaixonar e lembrar que não é tão poderosa quanto imaginava ser. Problema é seu: eu preciso! E problema é seu se agora você tá assustado porque não sabia que eu era assim e não sabe como cair fora. Poxa, não deixa pra me valorizar depois que me perder, e não me faça ter que te valorizar depois que te perdi. Não me dê o trabalho de passar em cima do meu orgulho e da minha vaidade. Não me dê o trabalho de ter que esperar você perceber que eu não estou do seu lado pra vir até mim e me chamar, aliás, não me chame se isso acontecer, me pega e leva. Não me dê o trabalho de ter que ficar esperando que você dê a sua mão para eu segurá-la, segura a minha de uma vez! Não me abandone nem por um minuto sequer, nem entre conhecidos seus, nem entre conhecidos meus, nem entre desconhecidos meus, nem em circunstância alguma, não suma sem dizer aonde vai, e seja lá onde for não demore. Não se ofereça para dar uma solução caso eu esteja com algum problema, pergunte no que pode ajudar e me abrace. Falando nisso, se eu não estiver bem, não me pergunta se eu quero ir na rua para ser abraçada e ficar melhor; nessas horas a gente nem sabe direito o que quer. Levante-se e me segurando pela mão diga para eu ir com você. Dê o abraço mais longo e mais apertado que julgar ser capaz. Problema é seu se eu te amo, se tenho medo de te perder, se não sou uma mulher com atitude o suficiente pra tomar a iniciativa de ligar se você não liga, de pegar tua mão se você não pega a minha, de te pedir um abraço se você não abraça. Problema é seu se eu te amo e não tenho mais pra onde correr e o medo que sinto não tem mais como ser disfarçado. Não quero ser tua pela metade, não quero te ter pela metade. Então me incomode, me provoque, me instigue, me deixa curiosa sobre as suas intenções para o final de semana de vez em quando. Me pega na minha casa para sairmos e não me diga para onde vamos, mas me leve num lugar bom. Não importa onde seja, não importa de que maneira você vai me levar. Pode ser numa vista linda que você descobriu, pode ser num restaurante elitizado para jantarmos, pode ser na praia para ver as etrelas, ou numa trilha que termina com uma paisagem altamente sujestiva. Não me desrespeite nem faça piadas de mau gosto na frente de outras pessoas, aliás, em lugar nenhum. Mas jamais, jamais me desafie na frente dos meus amigos e parentes. Não seja rude, grosseiro, seco, agressivo, ou indiferente comigo. Não me faça chantagens emocionais pra se livrar de culpas. E me ame, me ame intensa e loucamente, mas mais que isso, mostre o quanto me ama intensa e loucamente. Não me deixe desesperada por você, não me faça acreditar que estou te perdendo, não me enlouqueça a ponto de eu achar que estou ficando louca.

GUERRA


Sou aquela que não foi à espada cravada
para descobrir a dor.
Sou quem não venceu a Guerra
pois perdeu o amor.

Sou de poucos amigos, e não tenho
vinis aos montes na estante.
Quem te fere a lembrança não sou,
mas sou quem te lembra do instinto pecador.

E não vou dizer que não choro pra caramba
e não dou a culpa a quem julgo merecer
O cão de guarda do meu coração
tem olhos rijos e não erra,

E mesmo rogo e vulgo sendo,
distinto, e leal não deixa de ser.
Sou a montanha esquecida por muitos,
e raramente escalada - sempre por poucos

Tenho cara de quem não oferece apoio
de quem não dá arrego
Mas a verdade é que não deixo de estar lá
pra ser empurrada e pra tentar puxar.

Se não desisto, não hesito em perguntar:
é a pergunta que leva o homem a lutar.
Mas eu fujo e não me nego.
eu me perco e não me lembro.

Se você quer encontrar,
sou generosa e aviso desde já:
eu já parei, pra não lembrar;
geralmente eu já parei de procurar.

23 de agosto de 2010

SOLTO

(um pequeno esclarecimento, a mim mesmo, sobre minhas pequenas crises existenciais)


Me falaram mais uma vez do quanto sou vazia e inútil para o desenrolar do mundo. Não sei o que pretendem todos com isso, mas seja lá o que for, não me atinge mais. Antes eu me permitia o luxo de questioná-los, depois, passei a me contentar com meu próprio questionamento, e depois...Desisti. E ainda que não deixe de ser a desistência um luxo tremendo, acho que eu não teria muito mais escolhas. E então, estou aqui. Me sentindo suja, de qualquer modo, é verdade; nada mais normal. Suja por ter me conformado, por ter continuado, por ter aceitado. Suja por não ter lutado por mim e pelo meu sonho. Suja pelo meu sonho não honrado. Desonrada por não honrar. Mas ás vezes...ás vezes penso que esse meu sonho, esse meu sonho de ser feliz e viver em algum lugar longe da bagunça não tá é encontrando o caminho certo em mim. Eu tava estudando aquelas coisas malucas de computador, e tal. Achando que era aquilo ali mesmo. Mas minha obsessão me impede de enxergar qualquer verdade. Sem querer, fico buscando uma maneira mais minha de fugir daquilo que tento incorporar para mim. E esqueço dos meus objetivos. Quero escrever, viver de palavras, viajar nas linhas tortas do meu raciocínio depois passar pro papel sem linhas da minha realidade. Quero a todo instante ler, mas agora, mais do que nunca. Se procuro fazer alguma coisa diferente, não me encontro, e lá estou eu, brincando de palavras. Talvez eu tenha um sério distúrbio, mas eu não consigo me ver sem ele. A verdade é que não sei lidar com aquilo que não gosto e me frustra. E isso seria viver. A verdade, então, é que não sei viver.

AVENIDA

(onde tudo vai, tudo vem, mas nada fica,
e rapidamente perde o sentido)


I
Eu grito em silencio 34 vezes
e 34 vozes sem barulho
me escutam sem dizer

Eu falo em ressonância
pra ninguém, e ninguém parece
ter algo a responder

Eu fujo por 34 vezes sem entender
ainda assim, existe alguém
pra 34 vezes me deter

Invento uma fuga a mais
mas nem assim, consigo
me esconder


II
Será que existe alguém aí pra esquecer?
existe um túnel com um trem
pra me levar?

Será que existe trem
onde só tem destruição?

Será que existe luz
onde só enxergam escuridão?


III
Existe alguma coisa
que me faz acreditar
e o dedo em riste
aponta a direção
na qual andar

Mas não sei
em quem mais
se pode acreditar

Ou se existe alguém
dono da verdade
que divida ela comigo
sem que queira me comprar


IV
Não sei mais o que vestir
o que fazer, o que comer

Não sei mais como viver
o que falar, aonde ir

Não sei mais a quem sorrir
com quem chorar
de onde eu vim

Não sei mais o que eu quero
o que eu quis, se eu sou

Esqueci o que eu tenho
se é que tenho
se é que dou

Não sei mais o que ganhei
e se ganhei, se mereci

Não sei mais o que mereço
o que sorri, ou minha dor

Não sei mais a cor
do meu sorriso
ou se ele algum dia
houve cor

RETRATO


Eu ainda desvendo
teus segredos, menino
e viverei contigo
em todos os meandros
de janeiro á janeiro

Pois cada florescer
de amores primaveris
dependerão de tuas cores
e a cada estação
meu legado será amor

LUGAR



DEIXA


Deixa em mim
o teu refresco
e teu sorriso bom
que sei de cor

Deixa em mim
tudo aquilo
que ficou
do nosso tempo

Deixa também
nosso tempo
Nosso abraço
E nossa dor

E deixa pra lá
minha bobagem
E esquece que

inda existe amor

DEMIM


Viajo pra dentro do espelho
a fim de descobrir o quão
estranho é existir
e mesmo assim, nada saber

Sei do quanto tenho
sei do quanto posso e devo
mas mesmo assim
viajo, viajo para saber

Porque estamos perdidos
em nossas verdades
ou nossas verdades
decidiram de vez revolucionarem-se
para se perderem em nós

E obscuro estando o caos
obscureço-o em mim.
e em mim não mais me tendo
evaporo assim.

POSOLOGIA


Fui até ti em doses,
e esperei pacientemente
o desafio de nós.

Respirei do ardor teu
co'utra alma.
Insana, sobrevivi

E corri, corria.
Do teu olhar perdido,
dei de comer a minha criança
devoção: secreta, covarde, obscura.

Amante, amarga,
sorri apenas
Fingi apenas

E enquanto sozinho bebias
eu cantava sozinha
em meu canto
meu lamento quieto

E enquanto sorrias
apenas chorava
de encanto
de vergonha,


e medo,
escondia.

OUTRO


Nesse jogo belo e sujo que criamos ainda sou tua inimiga. E eu calo porque só saberia contar verdades indizíveis. Então eu me pergunto:Por que você não mente, fazendo do único engano minha grande culpa? Por que você não erra, fazendo do meu crime meu suspeito? É o jeito que você me olha que muda tudo.

TE-ME


Me dá um pedaço de pão
o pão que o diabo amassou
me dá um trocado de vida
a vida que veio e passou

Me sopra a tua alegria
me tira dessa nostalgia
me lembra da nossa euforia
(lembra quando a gente sorria?)

Não me faça pensar nos pecados
(erro de ambos os lados)
nas palavras e mentiras trocadas
vindas de nossas bocas caladas

Menino do cavalo branco
me tira essa tua armadura
que eu tiro a poeira do manto
pra pensar em nós com candura

Quero procurar as flores
vamos correr contra o vento no campo?
Quero revestir nossas cores
que deixamos sós meio ao encanto

Quero tirar de uma vez
o sorriso do canto
que ficou pra disfarçar
o quanto eu te amo tanto

E você vai ver
amar até o pedaço perdido
menina, porque eu quero te guardar
mas nos quero sem pranto.

SE


E se eu disser que não foi nada de verdade?! Que o talvez não existe, e o quase não é quase tudo?E se eu disser que não me deixei levar por nada, e que foi tudo uma brincadeira? E se eu continuar mentindo?

MENINO VENTO


Olha, menino
se o vento te chama
pra fugir

você pode mesmo ir
mas quando fordes
diga que eu disse

pra deixar em mim
o teu refresco e
tua cor

E antes de tentar fingir
diz pr'esse vento
que te leva

deixar eu me vestir
do pouco que restou de
de você pra mim

como o cabelo que ficou
(e disso não me esqueço)
nos meus dedos de amor

Mas nossa dor pequena
diz pra ele
que passou

Preparei pra ele levar
(inda que em pedaços)
nosso sorriso bom

e nossos lábios
silenciados pelo beijo
que só tu soubeste dar

porque o lábio teu
sem querer ainda
sei de cor

mas diz pra ele, menino
deixar de papo
e deixar de ti

só pr'eu não
ter que aprender
a te ver partir

LAUDO


Desço as escadas, subo pela rua. Salto em graus. Sorteio um pensamento solto. Olho as estrelas. Elas estão caindo, e estão me perguntando: "qual é o seu problema?". Mas eu não sei dizer. Talvez eu seja uma lua distante ou um planeta desconhecido e elas nunca saberão da melhor forma.

MUDO


É o jeito que você
me olha que muda
muda tudo

E do teu
pro meu mundo
tudo mudo

SENÃO


- Estava pensando...Um dia vou beijar esses lábios.
- Está falando dos meus?
- Sem palavras. Pode usar uma negativa clichê. É isso que você faz, negar. Mas então eu já digo outro: "nunca diga nunca"

riso silencioso.

- Será que você é algum tirânico que magoei sem querer e agora se vinga escondendo sua verdadeira identidade? Não entendo por que tanto mistério. Não tenho qualquer interesse em te destruir, em publicar sua foto no jornal e dizer: "foi ele".
- "Tanto mistério" só porque não me revelo? E quem o faz? Você é muito mais misteriosa, se nega muito mais que eu. Se esconde muito mais por trás dessa armadura que a mim não engana.
- Armadura? Engraçado, tenho a mesma opinião sobre essas suas mensagens surpresa.
- Fico me perguntando se você realmente não sabe quem sou.
- Por que eu saberia?
- Rastreamento, um contato importante nas redes de telefonia. Pesquisa eficiente...Existem tantas possibilidades.
- Agora está me parecendo que você quer que eu descubra.
- Essa é a intenção. Pois sei que assim você não o fará.
- De novo.
- O quê?
- Você querendo ser descoberto.
- Você não sabe quem eu sou então.
- E você fala isso como se te fosse um trunfo. Me revelo, sempre. Você que teve a perspicácia ou a sorte de nunca ter me lido quando eu estive exposta
- Mas você é proposital. Se esconde e aparece rápido. E você é boa nisso, porque flui naturalmente, desperta vontades...
- Por que você acha que eu faria isso propositalmente? Por que você acha que eu seria tão parecia com você a ponto de me esconder dessa maneira? Eu já disse as coisas mais óbvias, com ultraexposição. Mas voc~e sempre acaba vindo falar comigo quando minha exibição é moderada. Sorte a sua.
- Só acho interessante teu ar de mistério.
- E eu só não sei porque. Você quer ver em mim algo que não existe. Quando você vai viver o mundo real?
- Quando ele for igual ao meu imaginário.
- Você sabe que isso nunca vai acontecer.
- Nunca diga nunca. Impossível é saber.

22 de agosto de 2010

VONTADE


Amanhecia. Ela lhe disse enquanto seguiam rumo:
- Essa é a primeira cor mais bonita do dia, o primeiro céu. Coincidentemente, a última cor mais bonita do dia, e o último céu colorido.
- E a noite?
- Não que a noite seja feia, pelo contrário, acho-a até bonita demais, com aquelas luas todas. Mas quando amanhece, e mais pro fim da tarde, é impossível ler estrelas; e assim, impossível errar destinos.
- Costumam falhar?
- O quê? Quem os lê?
- Seus destinos.
- Sempre. E eu me esforço.
- Pra não falharem?
- Não. Pra serem inconstantes.
- Isso é bom, afinal?
- E o que não é?

ARRANHA

– Você disse que pensou em mim?
– Disse.
– Por que?
– Então você ainda me ama?
– Era isso que eu queria te falar. Acho que nunca foi amor.
– E diz isso assim?
– Existe outra forma de dizer?
– Veio aqui, então, só pra me ferir.
– Não, vim pra te libertar. Nunca foi amor, também não foi paixão. E só me ressentia de haver outra pessoa, quando essa outra pessoa não te faria bem.
– Porque pensou em mim?
– Porque seus discos de vinil ainda confundem minha estante. Lembra? Daqueles discos velhos? E aí fico pensando o que te aconteceu; porque o maior erro entre eu e você, foi a sua distância, me levando pra perto de você.
– Mas por que não antes? Por que escolheu agora pra falar?
– Porque eu temia você interpretar errado minha necessidade de saber de você.
–E agora? Não teme?
– Agora não me importo.
– E o próximo passo? Dizer adeus?
– Adeus é quase tão forte quanto todas as palavras que já te disse até hoje. O próximo passo, é dizer: até logo.
– Mas isso é muito clichê vindo de você.
– Nessas circunstâncias, qualquer coisa seria clichê, inclusive o sugerido adeus. E então, o importante não são as palavras, mas o que elas querem dizer.
– Exatamente, e um até logo não seria impróprio? Acredito que não nos veremos semana que vem.
– Mas quem sabe na próxima vida?

Silêncio.

- Até logo
- Até.

(porque seus discos de vinil inda confundem minha estante)

AMOR DE REDOMA


Sabe aquele? O cara mais escroto do trabalho, que diz que gosta de você? Que insiste, que luta, que tenta. Aquele que você olha, ri e pensa: “Eu? Com Ele? Que ousadia. Coitado.”. Aquele, que faz você, por tão desprezível parecer, pegar o celular e mandar um torpedo para aquele gatíssimo da noite passada. Aquele que espera, que vai embora e sempre volta porque não conseguiu ainda te esquecer? Então, é ele. Sabe quando você pensa que agora engrenou, que aprendeu a ser solteira convicta, a versão feminina do Zé Mayer na novela das nove? Sai na hora que quer – e só não volta na hora que quer, porque essa hora sempre muda, e nunca é a hora planejada (na verdade você deixou de planejá-las). Telefone falso, nome verdadeiro pra quem merece. Mentirinhas inocentes de quem vai só ir ao banheiro retocar a maquiagem (que raramente usa). Aquele pensamento de: “Namorado: pra que te quero?”; a negação em topar com qualquer coisa boa no caminho procurando sempre os desvios para as trilhas mais devastas(deliciosamente devastas). Eternas recusas em achar o certo: se diverte com a seriedade deles mas prefere a erroneidade dos mais sem-vergonhas e deliciosamente cafajestes. Sai e sempre consegue o top of mind da festa; já conhece os melhores pontos e os melhores desvios; está com a agenda bem listada, peito e bunda empinados, orgulho e dignidade lá em cima. É agora, bem agora, prepare-se: ele vai entrar em sua vida. Alguém para destruir seus sonhos de uma solteirice estilo Sex And the City – sem final feliz que é pra dar ares de fracasso admitido como companheiro fiel e praticamente adorado. Surge ele pra tornar seu mar ainda a ser desbravado em uma pandora quente e confortável, segura e agradável. É ele quem vai te respeitar, te admirar, te amar. É ele quem vai secar suas lágrimas: elas finalmente vieram porque agora você pode chorar. Não precisa manter toda aquela pose de mulher fria e racional, empresária de primeira linhagem que só se emociona quando é conveniente. É ele que vai te abraçar e te fazer sentir não a pessoa mais sexy ou Angelina Jolie do universo, mas a mais especial. E aí eu pergunto: pra quê melhor? E mesmo assim, melhora sempre. Ele ainda vai te magoar, é verdade, por mais que te ame até sua mãe te magoa ás vezes. Mas num geral, ele vai ser a melhor coisa que você poderia ter encontrado, e vai te fazer perguntar muitas vezes: “Por que não antes?”. Também você pode parar e pensar que odeia amá-lo: vai ser uma das raras coisas que você diz odiar ao mesmo tempo em que ri. Vai falar coisas na frente dos seus amigos que vai te dar vontade de se enfiar num pedaço do céu e sumir, e outras, que vão te dar vontade de beijá-lo sem parar e tê-lo para sempre com você. Falando em amigos: os seus vão adorá-lo. Ah! Ao contrário do que muitos pensam, é com ele sim que você vai vier suas maiores aventuras e peripécias sexuais. E mesmo que já tenham tido outras pessoas, juntos vocês vão aprender muita coisa que só um amor de verdade pode oferecer. Ele é ótimo onde quer que estejam, e sempre vai levar em conta sua vontade com o maior afeto que se pode ter. Claro, ele vai olhar para muitas bundas passantes, vai sentir desejo por outras mulheres, quem sabe alguma ainda mexa muito com ele: acontece. Mas (ao menos se espera) que ele será suficientemente forte pra resistir e tornar o que vocês têm sempre intocado. Se for mesmo ele, você sempre prevalecerá em seu coração e seu pensamento. Pra ele você vai dedicar letras de músicas que são ”suas”, e por ele você vai ganhar seu tempo criando planos e estratégias perfeitas pra surpreendê-lo no dia dos namorados, aniversário de namoro (e quiçá casamento), e dia de nada, simplesmente amor. É nele que você vai pensar quando ler textos como este, e será por saudades dele que você os criará, quem duvida? Bem verdade que um dia ele pode vir a ser um crápula e te aprontar poucas e boas, isso ninguém sabe. Mas vai ser ele aquele que você vai considerar seu primeiro amor, seu primeiro amor real. Se não forem para sempre, vai ser dele de quem você vai lembrar. Vai ser com ele que haverá sempre uma ligação que ninguém explica. Também é ele que você sabe que, não importa quantas namoradas tenha, ainda vai guardar suas cartas e algumas fotos pra olhar vez ou outra, escondido dos filhos,e vai te guardar, além de numa caixa de papelão antiga, em seu coração, como a primeira mulher que amou e pela qual mais e melhor foi amado. Quem sabe ainda é de você que sua esposa ainda sentirá ciúmes quando inocentemente ele contar dos causos que passaram juntos aos sobrinhos, tios, e cunhados. Vai saber? Tem coisas que tempo e distância não apagam. Ah! Ele também vai te aprontar umas que vão te fazer responder com um: “O que eu faço com você, hem?”, mas com toda certeza, será sempre ele que quando estiver longe vai te fazer perguntar: “E agora?” – O que faço comigo?.

ENTÃO


(carta: por esse tudo)


Pensando no que fazer, fico também pensando em como começar o que acabo de aprender. Não posso começar falando que o amo mais do que achei ser possível um dia; isso é tão óbvio. Sem contar que depois de tudo e do pouco e do suficiente que descobri sobre amor, constatei que é algo inconcebível demais pra caber numa palavra tão...simples. Bem, quer dizer, o que acontece é que, independente de palavras, quando estou com você esqueço que a vida é feita também com matizes de cinza, e se olho pra trás, não suporto a idéia de não ter podido te encontrar antes, e olho logo pro presente que é você. Também tem quando estou longe. Ah quando estou longe...Odeio estar longe. Quer ver quando tenho que passar raiva sozinha. Desaprendi a fazer qualquer coisa sozinha, isso é meio péssimo, eu sei, mas quem mandou ser tão bom em tudo? E eu não “te amo” simplesmente. Amo o teu suor, amo as suas veias transparecendo na tua pele clara, aliás, amo tua pele e a tua insensatez. Amo a tua cara de quem pede mais, tua voz de sono, tua cara de cansaço no depois, e teu olhar de qualquer coisa muito boa o tempo todo. Amo o teu cheiro grudando na minha pele e na minha alma. Amo a segurança que você me passa quando me abraça, quando me defende, quando me socorre, quando me elogia. Te amo por esse mais e por esse tudo que ninguém sabe explicar direito quando encontra em alguém. Você é de onde eu vim, é pra onde eu vou. É o inicio do melhor caminho que eu poderia fazer, e se perco isso, fico sem rumo. Já passei por momentos difíceis onde não tive ninguém para me ouvir, no entanto você vem assim, do nada, e ousa ser a única pessoa para quem eu não preciso dizer nada pra me entender. Faz tempo, e eu continuo te amando como se tivesse sido hoje o primeiro dia que soube que era você o cara. Porque eu adoro amar você. Faz tempo, mas quando você não está, continuo odiando cada pedaço do asfalto que te deixa longe de mim. No fim, não vejo mais nada a fazer que aquilo que faço sempre: Te agradecer. Obrigada por ter me entendido, me esperado, me ouvido. Por ter tentado. Obrigada por aparecer e permanecer na minha vida, por não ter desistido, por ter lutado por nós. Obrigada por me deixar te fazer feliz, e por me fazer sentir confortável em simplesmente te deixar fazer o mesmo. Obrigado por me amar, e me fazer descobrir o verdadeiro amor. E, finalmente, obrigada pela tua paciência e inigualável compreensão que tens tido comigo; essa namorada relapsa, estranha, insegura, covarde que inevitável e felizmente ama o adorável psicótico que existe em você. Te amo, sua.

JANELA


Não tinha nada planejado para esse ano. Nunca planejei nada em nenhum ano. E aconteceu. Por isso finalmente entendi porque. Não é o mesmo motivo pelo qual as flores nascem e morrem, mas pra quem não sabe muito como eu, é bem parecido. Me perguntam porque falo tanto em morte e flores. É que as flores do ano passado só estão ali, mas não têm mais vida. Me lembra alguma coisa que esqueci, mas tenho medo de dizer. E então anseio propor uma charada: "O que é o que é: está ali, mas não vive?". Acho que ninguém teria coragem de responder. Ninguém quer muito ser o primeiro ou o último a dizer a verdade para alguém.

COLO


Ou eu já cansei de procurar
ou eu já achei e esqueci
de me encontrar

Sem saber a coisa certa,
(o que pensar)
eu me deixei simplesmente
me deixar

E me deixando, simplesmente,
eu me escondi e proibi
de procurar

E então, assim
andando devagar
eu fui sumindo

e assim, sumindo
sem parar
foi que te achei
no meu lugar
voltando a ti
pra me salvar

VITRINE

(bicho-commoditie)


Shopping. Compro o que tinha a comprar. Subo à praça de alimentação. E então
recordo com certo pesar: é quarta-feira. Quase em desespero reviro a bolsa atrás da agenda, e uma linha fina de esperança ainda me mantém razoavelmente tranqüila. Como quando a gente cola pela primeira (e normalmente última) vez, sabe que o professor viu tudo, mas prefere acreditar que ele não viu nada. E como (normalmente) acontece o professor vê, e a esperança toda se esvai.
Entretanto, mesmo com a praticamente dolorosa constatação, ajo com “trade-off” e
anuncio meio que escandalosamente para o lado misantropo de minha consciência: resolvo me aventurar. E então, apesar do alvoroço infiltro-me no caos de barulho e cor. Peço uma vitamina, e importante ressaltar que não foi fácil: minha voz tornava-se apenas um infame nanômetro dentro de longínquas ondas sonoras, que sem dúvida eram maiores que eu.
Quatro da tarde e apesar do esforço em me concentrar na leitura do livro que
carregava, meu instinto de curiosidade humana apossou-se com brutalidade de todas as letras e pensamentos que eu poderia ter. Levantei os olhos devagar. Meio com medo; meio como se a balbúrdia tivesse o incrível potencial de me cegar. E o que eu vi, afinal? O que eu vi, deve estar me questionando o leitor. Vi uma multidão de commodities humanos. Populações inteiras de tênis coloridos, espécimes nada raras de logotipos de grandes grifes – maiores que suas próprias almas, entregues a preço de banana por nomes criados por pessoas de duas pernas e dois olhos, exatamente como, veja só que incrível coincidência: todos nós. Piercings, gestos, sorrisos, atitudes. Caricaturas (que aliás mais coloridas do que nunca) de adultos. Todos, sem perceber, exonerados dentro de seu próprio ser; no meio de muitos corpos e corações, mas sós. Perpetrados em sua função de agir conforme, escondendo suas essências num lugar tão escondido de suas existências que mesmo que quisessem resgatá-la desistiriam antes do meio. Meninas de treze vestindo-se como suas irmãs de vinte e um, correndo perna-de-pau num trâmite nervoso de exigências individuais para conseguir atenção; falando alto, cheias de charme forçado, esquisitas sem perceber. Laços, chinelos, blusa, e short fluorescentes: tudo junto, de preferência, afinal, é moda. E meninos. Meninos com pose de mau, cara de mau, jeito de mau: pobres meninos. Pra que tanto esforço? Ser simpático é brega. E mesmo um mínimo de cavalheirismo, cafona. Bonés levantados para aparentar desleixo. Arte de quem quer poder sem saber ter. Cabelos louros, compridos, ruivos, curtos, cacheados ou escorridos. Mas antes de qualquer coisa: artificiais. Padronizando-se no mesmo “in” de ser diferente, ficam no fim todos, exatamente, iguais. Que “out”. Apertos de mão do tipo “eu-assisto-a-novela-das-cinco-e-meia”, “mano”s, “velho”, “galo”, “bicho”s. Bichos. Sim: Animais aprisionados, tão bem adestrados a ponto de não enxergar as grades. Ou, nos piores casos, num nível desesperativo tão grande a ponto de se conformarem com elas, afinal, a ignorância em algum ponto não é a pior doença do universo para os iguais. Na verdade, pra que melhor que a síndrome de ignorância pra ser feliz? A filosofia oriental de não ver, não ouvir, e não falar nenhum mal, invertida: vêem coisas que não prestam, ouvem aquilo que não prestam, e conseqüentemente falam e o que não presta. Existem ainda aqueles poucos que hesitam entre o desconhecido e amedrontador limiar da autenticidade, pelo medo de terem rejeitadas suas verdades, ainda mais imaculados no seu silencioso e discreto sofrimento existencialista, exalando seus tristes e mal-cheirosos gritos presos de dor. E no meio da algazarra dos selvagens aprisionados, sete, eu contei. Os descamisados de classe social, sobrenome, ou moda; mas vestidos da melhor coisa com a qual se pode vestir: aquela alma leve de quem sabe ser, e a liberdade de quem simplesmente não liga. E aí, quem é normal? Depois de tudo que se lê, vê e ouve, chego a conclusão de que é muito fácil defender-se da loucura sendo normal. E eu, justo eu, que sempre a defendi, hoje estou aqui, analisando essa nova modalidade. Porque, loucura, pensando bem direitinho é muito mais aprisionar-se, sorrir, ser educado sempre acima de si do que deixar-se enlouquecer-se. Loucura é muito mais negar-se humano, que permitir-se. Loucura é muito mais ser original não sendo, que forçar-se a ser. E no fim, prefiro o “clean”.

VÍRGULA


Ele me pergunta o que eu tenho. Lembro o quanto, há alguns poucos anos atrás, respondia com orgulho ao ler, ouvir e ver piadinhas até engraçadas sobre nós mulheres termos a mania de dizermos “nada” – com a mesma mentira com que dizíamos não ter comido o bolo antes do almoço. Com orgulho sim. Comentava o quanto considerava errada essa atitude, e que o diálogo é necessário, e esse papo démodé. E as coisas mudam.
Digo que nada. E o que mais eu poderia dizer se tanto já disse e pouco bastou? Adiantou falar, chorar, gritar, pedir, e até xingar? Digo que nada e remôo minha dor, silenciosa, mas intempestiva, pedindo pra explodir. Quando foi que me calei tanto, a ponto de o meu silêncio ser tão pouco notado? Foi porque minha voz perdeu o tom? Foi porque eu desisti? Eu queria que ele ouvisse, e não só que eu falasse. No fundo, eu sei que é bobeira, mas eu queria que ele insistisse. Mas tanto fez.
Depois eu sorri, e brinquei com suas mãos, e o beijei. Mas estava ali ainda. No fim ele me pergunta:
— Me desculpa?
— Não.
— Não?
— Essas coisas têm de ser de coração, não tem?
— Tem. Eu só não entendo porque não pode ser.
— É que não é você. É difícil entender quando não foi a gente que caiu e ralou o joelho.
— Ta bom. Eu vou ta?
— Vai. E por acaso faz diferença?
Ele me beija na testa como um “não”. É nessas horas que dá vontade de dizer: "Desculpa. Não podemos mais continuar com isso", e aí sim virar as costas, ir embora pra sempre, e na próxima esquina ou ruela trocar o coração pelo táxi mais próximo de um mundo novo, ou por um carro zero na garagem. E ponto final. Mas alguma vez é assim? Não com a gente, que tem a espinha dorsal virada pro drama e vê em tudo um amor de vida inteira. Não pra gente que insiste em viver um poema e não um noticiário de investigação criminal do jornal da manhã.Não pra gente que quando sai por aí tenta pisar só nos pedaços brancos da calçada e no susto acaba no terreno obscuro, complexo e desabitado da melancolia dessas coisas - e ainda acha que ta abafando. Nessas horas é que dá vontade de dizer: “Acabou”. Mas a gente da interrogação lá gosta de pontos finais?
Related Posts with Thumbnails
 

Voltar ao Topo