3 de março de 2011

PROSPECTO


















A gente joga damas. Quantas vezes você já me perguntou se está tudo bem desde a hora em que soube que não estava? A gente deita de conchinha e eu adoro. Te peço pra ficar de costas que eu te abraço: premeditado. Eu quero é vomitar minha dor com todos os temperos amargos. Mas choro. Vejo sua respiração calma e sensata, digna de quem dorme um sono tranquilo. Eu te amo, e isso é certo, mas não sei mais o que fazer com essa coisa de depois. Penso no que falar, e sinto mais vontade de dizer: "Vê bem o que cê tá perdendo hem...", mas essa prepotência regular e estável nada tem a ver com minha intempestividade. "Eu tô aqui, toda tua e você parecendo querer que eu me vá logo" seria mais compatível com meu estado de destruidora de plenitudes alheias. E então, nesse trâmite todo de ilegalidades incontidas, cometeria mais uma: repetir e implorar. Mas...que isso, a que ponto chegamos. Daú eu simplesmente soube: você iria mesmo. E teve a coragem de me deixar saber assim, sem exclamação nem suspiro preparatório. E então você me pergunta se eu entendo. A respsta é tão óbvia que chega a doer os ouvidos; eu respiro fundo, e digo que sim. Engulo meu palavrão que desce indigestivamente por não ter ferido sua compostura, temperado por uma mistura azeda de vazio, mágoa, raiva, e rejeição: e eu? Faço o que com o melhor que separei pra gente? Com os planos? Só faltou mesmo chegar o Chico cantando: "...levou os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos" pra completar a marcha fúnebre que se instalou em mim. E eu? O que digo pra mim? Pra minha consciência mentecapta, negra, e obsessiva te transpirando e tendo você por perto o tempo todo? O que digo eu pras minhas perguntas latentes, irritantes, cansativas, cheias de pulgas de você, que ficam aqui, puxando cada fio dos meus cabelos como se fossem fios daquela blusa de lã velha que depois de puxados uma única vez, se destroem por inteiro? Que ficam aqui, desagradáveis e sem nenhum senso de diplomacia dizendo: "E então? Por que ele preferiu ir?", "Por que ele sempre faz isso?" ou "O que ele quer de você afinal?". E então você pensa na coragem de dizer não. E pra variar o óbvio, você diz. Ironicamente seca as lágrimas que causou e eu não reclamo: fazer mais o quê? Mas é que antes você só limpava. E ainda não sei lidar muito com o fato de causá-las. Mas o que é isso agora, menina? Você que sempre manteve a pose de sujeito ativo, agora ta aí, nem passiva, nem reflexiva, perdida no limbo estranho que separa tudo da gente. Fico com a sensação de que me conformo e desculpo mas que na outra lateral desse campo de batalha instaneamente preparado por nós nem quero imaginar as consequencias e me isento desde já sobre todas as culpas: o resto é por sua conta e risco; minha parte eu já indendiei.

7 comentários:

  1. E tudo parece tão simples em certos momentos, mas vez ou outra, parece que tudo cai no esquecimento e o único objetivo é comer mais pedras e fazer mais damas. E nesse meio tempo, ninguém consegue dar conta, que enquanto um come sentimentos, o outro não enxerga a dama...

    Valeu pela visita! Volte mais vezes. Será sempre bem vinda =)

    Beijo!

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  2. Obrigada pela visita. Adorei conhecer seu canto.

    Nesse jogo. É ganhar ou perder. O que fica latente no peito são as lágrimas lançadas. O que sobra é essa predisposição natural de se perder em cada detalhe que o amor provoca.
    Me identifiquei tanto.

    beijos linda!

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  3. Acredito que independentemente da visão que você tem desse jogo, só há vencedores. Mesmo os que "perdem" e sofrem, porque estes nunca saem iguais de uma relação assim.

    Ou ao menos é o que penso.

    Agora, que o sofrimento pode existir e machucar, parecer maior do que realmente é e transformar tudo (ou quase tudo) em dor, ele pode. E só não pode como assim o faz.

    Resta aprender com tudo, não é?
    Bom texto! Hehe

    E, alias, muito obrigado pela visita aos meus blogs e por ter me deixado feliz com seus comentários.

    Volte sempre :)
    Um beijo e bom fim de semana!

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  4. isabelnotebookmarço 04, 2011

    Obrigada pela sua visita Luana.

    Besitos y espero seguir visitando tu blog, utilizaré un traductor.

    Besitos

    Isabelnotebook

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  5. Amar, quem sabe, é esse não saber o que fazer depois.

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  6. Isso sim é que chamo de um texto reflexivo...excelente...ainda está na minha cabeça...muitas coisas se passando desde o início da leitura...muito bom, Luana!!

    Aproveito para lhe convidar a participar do sorteio no meu blog Desce Mais Uma!.

    bjos

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  7. É, guria, quando a nossa parte já foi feita, basta agora aguardar o jogo do outro. Ataque, ou recuo. Xeque-mate? Adorei o texto, flor. Me trouxe um turbilhão de lembranças desacordadas. Sempre gosto de vir aqui!
    Um beijo

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Obrigada pela sua visita! Volte sempre para tomar um chá neste espaço de aluguel, e mais do que tudo: completamente seu.

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