10 de agosto de 2013

PEDACICO

"A verdade, é que você bem sabe...Como todo mundo que já chegou aos 18, posso dizer que até aqui, minha vida inteira ouvi as pessoas me dizendo:
- Você devia ser escritora.
- Você devia ser modelo.
- (...) Jogadora de basquete.
- (...) vôlei
- (...) fotógrafa
- (...) jornalista
- (...) escritora
- (...) psicóloga
- (...) arquiteta
- (...) etc.

E todas essas coisas eram uma possibilidade, de modo que eu nunca soube o que eu realmente deveria ser - nem mesmo consegui definir o que exatamente eu queria ser.

Mas hoje eu sei: algumas coisas simplesmente acontecem. E aconteceu de eu me tornar fugitiva. Toda minha vida, todos os meus esforços, talentos e potenciais futuros se resumiram a isso. Foi assim que tudo começou - porque toda história tem que ter um começo, aquele começo que nunca é nem 10% da coisa toda, mas serve para explicar a merda que está por vir. Mas nem tudo é ruim como gosto de fazer parecer, ás vezes, para ter do que reclamar. Não me lembro da última vez que precisei ser cordial quando não queria. Não preciso mais fingir absolutamente nada, não tenho mais o que perder. As pessoas num geral sempre me cansaram; quem sabe seja essa a profissão perfeita para mim. Vocês podem estar se perguntando o que se faz nessa profissão. Bom, vou lhes dizer que meu trabalho não é muito diferente do de um analista de investimentos, empresário, ou gerente de qualquer bosta: se resume, basicamente, em identificar oportunidades, aplicar técnicas, apurar resultados, prospectar novos clientes, determinar um público-alvo, aplicar golpes no mercado e, claro, sempre que possível, criar demanda e ter uma boa estratégia de marketing, lesando outros e objetivando lucro e interesses pessoais. Então, vocês devem estar se perguntando qual a diferença - o que é engraçado, porque é o que a gente vive se perguntando. No fim, a gente sempre conclui que tudo é uma questão de percepção e significação, e assim conseguimos convivem muito bem com nossa consciência. Também nem vou dizer que somos Robin Woods. Qual é, pessoal, vocês já são bem grandinhos. Algumas pessoas dizem: "Um dia, vocês vão se dar mal.". É verdade. mas quem não se dá, nessa vida louca, não é mesmo?A gente só leva isso a um nível mais extreme. Não temos casa, nem apartamento, nem identidade. O que a gente tem é um monte de números em tantos bancos que nem sei. Porque dinheiro é só isso: papel, e número. E tudo é tão cíclico, que cansa. É claro, a gente não anda mal, pra ser bem sincera, andamos a pé. O resto a gente faz de avião, e trem. Roupa a gente compra por mês, e vai doando. Como você vê, nosso lance é até solidário e desapegado. Todo nosso luxo e conforto é temporário: comemos, vestimos, e viajamos bem. Todos os dias - quando estamos acordados e sãos. Além disso, a gente tem o hábito de se brigar pelo menos três vezes por semana - uma estratégia de conflito. No fim, tudo vai indo."




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