14 de junho de 2018

O Eduardo, a Mônica e como isso pode perturbar uma mente quase moderna


Sempre adorei o Eduardo e a Mônica. Lindos eles. E, claro, "ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz", como toda a música, sempre brandiu alto na minha voz quando a canção começava em um local onde eu não fosse passar vergonha. Mas desde sempre, eu reconhecia que esse era o único contexto onde algo assim soaria agradável aos meus ouvidos e ao meu coração.

Entenda, com todo o respeito: não quero ser arroz ou feijão de ninguém! Aliás: não quero sequer ser feijão com arroz para alguém, inclusive para mim mesma. Quero ser refeição completa, banquete. Lasanha, cinco tipos de pizza, farofa, picanha, feijoada, pão com ovo, dois tipos de risoto, três tipos de sobremesa - vinhos e cervejas, dos melhores e à vontade. Quero, só depois de satisfeita, achar mais alguém para empanturrar. Afinal, a gente não tem que completar ninguém, a gente tem que transbordar: em si, e no outro. Mas ninguém transborda se prefere manter o copo (ou a mesa) vazio: felicidade é responsabilidade individual, única e intransferível. É como aquele convite VIP que se você não puder aproveitar, não adianta entregar para o amigo - nesses casos, nem irmão gêmeo funciona.

Amar, por outro lado, é um dos maiores saltos de fé que alguém pode fazer: não se ama esperando algo em troca, não se ama sequer esperando ser amado, não se ama quando apenas é bom e o banquete alheio é farto. Imagine só?! "Amor, amor! Baratinho! Troco por buquê de flores no dia dos namorados"'; "Boa tarde, me diz uma coisa...você tem aquele negócio...amor, se não me engano, é grande assim e a gente pode ligar quando tiver vazio e quiser encher? Ta quanto? Pago com um presunto para você colocar aí no seu pão" - quando você se basta, então, você pode se dar ao luxo de bastar para alguém que se baste também. O resto, é história.

Porque, é claro, muitas vezes, amar inclui sofrer - e existe uma enlouquecida ordem social que determina a felicidade e o sucesso com base no status de relacionamento de alguém, plantando frases do tipo "você me faz feliz/você é tudo/etc" que, personificadas, seriam a própria face do horror e da sociopatia, uma mistura bem elaborada de Leatherface e Babadock. Mas a felicidade de um amor bem resolvido é o pote de ouro no fim do arco-íris dos relacionamentos, que você só estará apto a enxergar quando se amar o suficiente para saber que merece ser feliz.

Depois, qualquer um que estiver ao seu lado terá sido fruto de um longo trabalho de si e, portanto, muito bem escolhido: digno de todo dedicação, esforço, comprometimento e lealdade para que seu nível de felicidade (entregue a você com o tanque cheio) seja digno de enlouquecer qualquer ponteiro que não encontro número indicador a altura. Um processo de retroalimentação em que a alegria de estar em si no outro se reproduz nesse muito que se torna o nós - a partir do momento que a gente decide que tá pronto para dividir, não somente uma refeição, mas uma tarde, um final de semana, uma quinta-feira, uma cama, uma vida. Para quem pode, "transformar um ribeirão em braço de mar": não falta amor, falta vontade.

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