22 de abril de 2009

COISAS QUE ESQUECEMOS




Juiz da própria vida, desejo do próprio ardor. Ela ia vivendo, sempre achando que aquilo era morte. Não mentiu, não negou, não calou. Frieza da própria dor ela ia deixando pra lá. Efêmera, confusa. Foi com o calor de um fantasma que viveu o que chamou amor. Passou outro romance, outra traição – dela para ela mesma. Ali, naquele quarto, quis findar com as cinzas todas d’um passado pérfido e de um eterno rancor. Amarga, pensou enlouquecer. Embriagou. Arrependeu se durante os dias que não passaram, e todo dia se arrependia de sempre se arrepender. E pensar que tudo começou com um romance fugaz que não terminou. Blasfêmica e doentiamente sonhou ter-se atirado pela janela, fugindo simplesmente desse jogo cinza de sedução. Mas não a ela, uma outra, uma que foi-se anos atrás. Tocou a face macia do mundano e a alma do amor. Tateou levemente as ancas do pudor miserável e se viu perdida na rua ladrilhal, reta, fria, concreta e áspera. Sofreu as faltas do famigerado condor: amarguras que rapinavam com cuidado suas falsas e secas lágrimas de dor. E cega, anoiteceu as verdades da vida. Ele, já surdo de arrependimento, aceitou. Ela, muda de mentiras, padeceu. Ricos de ilustres marcas culminavam seus próprios fins.

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