22 de abril de 2009

DENTES


I
Encanto com teu canto
A aspereza dos teus dentes
(os quais nunca tive
coragem de sentir)
E só se sei ouvir
O encalço do barulho teu
Incomodando as sandálias
Em que calço tais brutais
Descalços pés cansados,
Silêncios do amor.
Já nem me importo,
Cacos antigos,
Louças esquecidas
nossas incertezas
...
Mas você me enlaça
me torce
me puxa
Inventa a lua
Você me suga
me enxota, me cega
me surda, me seca.
Se existe uma culpa
ela é toda sua

II
Encanto com teu canto
A aspereza dos teus dentes
(os quais nunca tive
coragem de sentir)
Defronto-me com
Minha podre covardia
No vão de meus
Escassos caminhos
E deparo-me
Com o impossível
E não sei dizer não,
Digo jamais.
Sei apenas do encalço,
O barulho teu fazendo
Festa nas sandálias
Que calço e rogo
- tais brutais, pesados
(de amor)
E ando aos sobressaltos,
Sem nivelar importância
Aos cacos antigos
E aos novos
Que virão com o descuido,
Normal o ruído.
E nem sinto
Felicidade ou dor.
Porque você me expulsa
me volta, me chuta, me escapa,
na ida, na vinda,
Se existe uma culpa
ela é toda sua

III
Mas é por não existir
Um outro
Pois desses assim
Só há um,
Eterno e verdadeiro
Que não canto
Meu encanto
E acalento
O desencanto
Do seu (meu)
Doce dissabor
D’antes.
Porque você me implora,
me chama, me chora, me invoca,
Se existe uma culpa,
ela é toda sua.

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