26 de agosto de 2010

TERÇO


Lembrou-se de todas as armas com as quais se engalfinhavam num confronto sem fim nem razão, mera e perigosamente verbal. Em seus pensamentos ela o conhecera havia alguns meses, outono talvez. E lhe dava cartões, flores, bombons, todo seu afeto e a dedicação de todos os pensamentos. Ela, em sua imaginação, lhe dava a mentira que ele queria receber e, em realidade a mentira que ela julgava merecer. Ambos atolados em suas vidas incertas e causticas. Lhe enjoava ver-lhe os cabelos, os olhares, e até os sapatos dele a enojavam por exagero de desejo. Até que aconteceu: entre cartas de baralho molhadas com uma bebida qualquer. Depois da angústia por alguém que não veio e da música que falava de um beijo que não acontecia, depois do exagero de consumo de tudo, depois da massagem, depois do carinho e do romance que ocultavam uma clara intenção dessa vez. Depois do abraço, o beijo inesperado. E finalmente, um terço do nada.

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