Eu queria poder falar
a língua morta dos homens
a que se esconde por debaixo
da boca sorridente
Interpretar minúcias,
balbúrdias, falácias,
e pedir lento o que engole
as almas e os intestinos da gente
Eu queria ser dona do silêncio,
rainha do entardecer
navegante de todas as águas
senhora dos espaços vazios
Descamar as flores de cada palavra
Arrancar-lhes os dedos e tendões
de cada raiz então forte
Alcancar os vermes e o doente
Eu queria ver sem lupa
o horizonte gentil e fraco
de todos as almas
donas de rostos felizes
Acolher a lágrima que que cai leve
para secar antes do pranto
do desespero nu, das verdades
e dos medos por trás do crente
Eu queria um céu vazio e limpo
para rabiscar certezas incoerentes
e um espaço para escrever saudades
medo da morte, velhice, varizes
Ver o barulho despertar os cansados
ouvir verdades saltarem no caos
que se irrompe em ventos sutis e firmes
Buscar madrugadas no dia mais quente
Eu queria poder falar
a língua morta dos homens
a que se esconde por debaixo
da boca sorridente
18 de abril de 2017
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