27 de agosto de 2010

ALÉM


Havia alguns dias que pensava nele, e lembrava dos deliciosos momentos que passaram juntos. Chegara quinta-feira, e desde então, não pensava em outra coisa além de procurar-lhe. Lembrou então que devia ter seu número anotado em algum lugar. Na carteira. Estava lá, entre seus documentos. Entre empresários asiáticos, franceses, e americanos lá estava seu telefone, marcado de batom pois na ocasião não tinham outra coisa. Lá estava seu nome marcado de vermelho; na ponta um coração. Estava lá, de onde nunca saíra.
- Alô? Respondeu uma voz sem o mínimo de animosidade
- Oi...será que ainda aparece meu nome quando ligo ou você nem lembra mais de mim?
- Ahh! Mesmo se não aparecesse, não haveria como esquecer.
Não resistiu à risada: ainda estava um bom conquistador.
- Ok...bom saber. - e pensou um pouco: será que já não estaria casado? filhos? - Então, você disse uma vez que eu poderia ligar quando estivesse precisando de afeto, ou com saudade. Veja só que azar o seu, estou com ultracarência afetiva doença séria, você deve saber; saudades; e tive coragem de ligar pra te falar isso.
- Poisé...isso é bom?
- Depende da sua atitude.
- Depende da sua resposta.
- Pra que pergunta?
- Se você não ligou antes por falta de saudades, por estar bem servida de afeto, ou por não ter tido coragem.
- Hm...agora fiquei confusa, a opção "b" é a de estar bem servida de afeto?
- Uh! Você continua boa em ser cruel?
- Ah, então não é essa, a resposta certa é falta de coragem.
- E por que só agora?
- Porque só agora desisti de que você me ligasse antes.
- Eu sempre disse que estaria à disposição. Já você...
- Também!
- Tive medo de incomodar. Vai fazer o que hoje?
- Nada, ainda.
- Que tal darmos uma volta? Pararmos num restaurante...Depois a gente podia assitir a um filme, aluguei alguns.
- Não, filme hoje não. Não precisamos mais disso. Ainda o mesmo endereço?
- É.
- Ok, te pego às nove. Até mais.
Desligou antes que ele reividicasse o fato de que quem iria levar seria ela justamene por saber que ele o faria: sempre foi um perfeito cavalheiro, e cortejá-la era um papel que ele fazia bem. Passou no horário marcado. Lá estava ele, do mesmo jeito. Mesma estatura, mesmas medidas, roupas mais sérias; a barba do jeito que ela gostava; mas tinha tirado os óculos, que pena. Entretanto, o mais importante ainda brilhava soberano: um olhar eternamente encantador. Dormiram juntos, como naqueles tempos desejavam tanto. Eram seis da manhã quando ela acordou, pediu pães, sonhos, um pedaço de torta, e fez o café do jeito que ele gostava. Lembrou-se da última vez que havia feito aquilo, nunca deixaria de ser bom. A separação aconteceu sem querer, ela não pôde recusar uma proposta suntuosa, e ele não pôde lidar com a distância. Aquele dia seria sua última tentativa, pensou ela. Comeu sua parte, e junto com a dele, deixou-lhe um recado:


"Você não mudou nada, foi fantástico como sempre. Apesar de tanto tempo: te amo.
Obs.: estou indo pra Londres semana que vem, preciso de um boa companhia de viagem,. Andam precisando de muitos psicólogos naquela cidade louca, e...deixe-me ver, há uma passagem que me disse estar precisando de um dono. Se aceitar o cargo, será muito bem vindo. O avião parte às oito e meia, e você já deve estar meio atrasado."



Eram dez horas da manhã, o avião percorria São Paulo. A poltrona ao lado estava vazia: todo mundo precisa ir no banheiro ás vezes, mas ele já voltava com aquele sorriso especial o qual a fizera voltar. Ela não sabe. Ele não sabe: mas ela nunca teria partido sozinha, e se tentasse, ele não a deixaria novamente. Londres estava ansiosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela sua visita! Volte sempre para tomar um chá neste espaço de aluguel, e mais do que tudo: completamente seu.

Related Posts with Thumbnails
 

Voltar ao Topo